Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Os invisíveis

Ontem assisti ao programa Conexão Repórter, que passa no SBT, pela primeira vez. Pelo que entendi, o repórter se infiltra em algum contexto e desenvolve a matéria de um modo bem cru. O nome dessa foi Os Invisíveis com a intenção de retratar não só a vida rotineira dos moradores de rua, mas também a vida que precedeu aquele destino e a forma como essas pessoas [não] são percebidas pela sociedade. O nome é claro e objetivo, bem adequado aos fatos. Essas pessoas estão por toda parte e em lugar nenhum, vivem e morrem no anonimato e, como foi dito na matéria, só ganham alguma visibilidade nas estatísticas, quando viram algum número. Dois pontos me chamaram bastante atenção: no primeiro, um dos produtores do programa caracterizado como um mendigo tentou entrar em dois locais da "classe alta" para se alimentar, mas foi barrado pelo segurança, mesmo alegando que tinha dinheiro pra pagar, por pura discriminação social; e o segundo, o qual me deixou plenamente sensibilizada, foi a história de uma mãe que passou a morar na rua pra cuidar do filho, dependente químico que perdeu tudo por causa das drogas e nunca conseguiu se recuperar do vício, indo parar nas ruas por intolerância dos familiares. Eis a fala da mãe, que comprova o amor incondicional, quando o repórter questionou sua decisão:
—  Não basta amar um filho na hora que ele tá numa faculdade se formando num doutor, num psicólogo, num advogado. É nas horas da dificuldade. [...] Pra viver sem meu filho eu prefiro morrer com ele.

Segue o link do vídeo: Conexão Repórter - Os invisíveis

Isso me fez lembrar de um trecho do Caio Fernando Abreu:

Escuta aqui cara, tua dor não me importa. Estou cagando montes pras tuas memórias, pras tuas culpas, pras tuas saudades. As pessoas estão enlouquecendo, sendo presas, indo para o exilio, morrendo de overdose e você fica ai pelos cantos choramingando o seu amor perdido. Foda-se o seu amor perdido. Foda-se esse rei-ego-absoluto. Foda-se a sua dor pessoal, esse seu ovo mesquinho e fechado.

A intenção aqui é expandir meu corpo para além dessa carne fria cheia de si que circula sempre ao redor do mesmo ponto e, quem sabe, acordar as mentes adormecidas e demasiado egoístas e fúteis que existem por ai. A questão não é encontrar nos problemas dos outros uma forma de alívio ou renúncia de si, mas refletir e agir acerca de questões que realmente merecem atenção e urgência. Os invisíveis também somos nós que nos omitimos diante de tantos problemas que esse mundo tem. E essa sim é a verdade nua e crua!

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