Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A verdade da chuva

a chuva sussurra
o silêncio já não diz nada
ela vem revestida de ilusão
mas não traz ternura
você evita ouvir
(h)á dor
ela grita
o telhado ecoa
e o frio te cobre.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Só, vento e mar

VOCÊ se DEIXOU LEVAR pelos OUTROS 
e EU ME DEIXEI LEVAR por TI.
JÁ o AMOR, COITADO, FICOU a VER NAVIOS.


domingo, 15 de janeiro de 2012

O mundo é uma mentira

"Num mundo onde só se diz a verdade, não existe a decepção", começava mais ou menos assim a sinopse que li, não lembro o que dizia depois, só lembro que já faz alguns dias que li isso e ainda não esqueci. Tão acostumada a esquecer e não esqueci. Poderia romantizar aqui sobre a memória e o esquecimento, ou sobre a verdade, a mentira, a decepção, mas fugiria do que quero realmente dizer, do que pensei quando li essa frase e o quanto ela foi importante pra fixar de uma forma tão firme em mim. O fato é que ultimamente minha vida tem estado imersa num tipo pegajoso de decepção, o que deixa subentendido o nível de mentiras que têm me rodeado. Mentiras bobas, fúteis, inúteis, desnecessárias, cruéis. Mentiras inevitáveis. Mentiras que um dia foram verdades. E verdades que um dia foram mentiras. Essas coisas que as pessoas contam olhando nos seus olhos, segurando as suas mãos, essas coisas que muitas vezes até essas pessoas querem acreditar. Quando li a frase, quis ir de imediato pra esse mundo da verdade, pensei: troco de pele e deixo toda essa lama pra trás, vou pra onde tudo está posto às claras, limpo e seco, transparente. Mas logo senti um certo desconforto, senão desespero. Olhei pra todas as mentiras que me rodeavam, pras pessoas impregnadas nelas e delas, e vi os sentimentos que rodeavam essas mentiras e essas pessoas, dentre eles a tristeza, a frustração, o arrependimento, a raiva, o afeto, a alegria, o amor. Percebi que num mundo onde só se diz a verdade, não existe a decepção, mas também não existe mais nada.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

As luas de lua

 para Lorena Maia.

Cheia de si e de tudo, até a lua estava cheia. O tédio a tomava em grandes goles lentos quando tudo parecia apenas mais um final de tarde que costurava o nada de seus dias com pontos falsos. Como se parasse de acompanhar os ponteiros do relógio, imergiu numa contagem desmedida. Lembrou-se de antes de tudo, da delicadeza dos tempos, da promessa silenciosa feita aos prantos que a partida causa. Lembrou-se de quando prometia, mesmo sabendo que muitas vezes não era de cumprir, mas perdoada feito criança. Lembrou-se de quando acreditava em boas intenções e de quando elas eram de fato verdadeiras. Essa tarde adormecia mais do que o sol, adormecia também um coração no canto do sofá antigo, acolhido pela tv e pelo prato de sopa morna. Não estava totalmente cansada, pois ainda lembrava-se de outros pores do sol e luas cheias, menos nostálgicos, menos coveiros. Também não estava descansada, o que a mantia no sofá era um sentimento desconhecido, mas familiar. Lembrar-se não era exatamente o que a enchia, é que tocava o vazio de tal forma que preenchia algo ali. E era incômodo. Como uma bolha cheia de ar. Lembrou-se do que havia esquecido, a lua cheia perdida na praia, a lua minguante sorrindo embriagada. O pôr do sol nunca visto. Estava cheia, pesada, inerte. Mas ainda havia algo em sua memória que a fazia flutuar pelos espaços da casa e a levavam pra longe dali, onde o tempo sonha. Ainda tinha as estrelas.