Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Soltas reticências


Mas a verdade é que quando me desatei e desatinei a viver o mundo outra vez, esse de nó frouxo, da tal liberdade sem hora marcada, dei de cara com as tais das reticências, esses pontos soltos que afrouxam os "happy endings" da vida, em cada esquina, um engodo em cada amarra. Desses, minhas fraquezas e fortalezas, e minhas paixões. Platonismos às avessas, amores despedidos, perfumes ainda impregnados de memória, o cheiro do mar, da chuva, alecrim, a batida do tambor, os beijos escondidos, apressados, desencontrados, desmedidos, interrompidos. E foi nesses esbarrões, no canto de cada meio sorriso cínico dessas esquinas, que vi espelhar aquela, dentre tantas outras, num olhar escuro, quase olhar abismo, quase caos, quase caso, ainda vívida, ciente de si, mas adormecida, ainda que estremecida a cada possibilidade de encontro. No perfume, no jeito torto, na assimetria coordenada em mim, reencontrei o que nunca havia perdido: um capítulo ainda a ser escrito.