Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Mais ou menos nós

Às vezes, assim num sábado à noite quando tudo deveria ser diferente, mas não é, quando eu deveria ter saído de casa e encontrado todas as pessoas que já convivo frequentemente ou que nem sequer vejo por ai meses a fio, às vezes, nesses dias que deveriam ter sido, mas não foram, penso que era aqui que você deveria estar. Não, não fisicamente aqui, mas comigo, fisicamente também, mas que estivesse de algum modo mais do que não está agora. E penso que toda a minha insegurança, ciúme, birra, intolerância, exagero, rispidez, etc, etc, etc estiveram mais comigo do que você. Tudo isso que eu fui mais. Assim como todo o seu descaso e descompromisso esteve mais comigo do que com você. Tudo isso que você foi menos. E penso que por muito tempo precisei escutar e sentir na pele os ganhos e perdas que circulam entre a gente quando gostamos e queremos ficar com alguém, e que muitas vezes perdi por não conseguir entender coisas tão simples, simplesmente por nunca ter parado pra entender nada por nunca ter estado tão ligada a alguém de modo tão natural e delicado. Penso que por muito tempo fui egocêntrica demais, como continuo sendo agora, e que por isso sempre coloquei mais a frente o que havia conquistado do que o que me davam. Nunca aceitei o fato de um dia perder aquilo que demorei tanto pra conquistar, o sentimento que é estar com alguém que se gosta, e acabei esquecendo aquilo que era mais importante, o amor do outro e tudo o que ele implica. Mas você poderia ter percebido mais aquilo que tinha nas mãos, e não só aquilo que sentia e o que recebia, ter saído mais de si, dessa bolha de afetos teóricos. Poderia ter tido mais medo de perder o que tanto demorou pra conseguir, por esperar em vez de construir. Tanta autoconfiança de quem sabe exatamente o que tem e não tem, o que deve ter e não deve ter, o que é possível e impossível, acabou esquecendo de cuidar do que era amado, considerando só o que era amor, como se isso bastasse. Talvez se eu tivesse sido menos egocêntrica. E você um pouco mais. Não, só o amor não basta. Mas talvez se eu fosse menos e você mais, ou vice-versa, nós não teríamos sido tão nós, e fossemos como agora, mais ou menos eu e você, numa noite de sábado onde tanto faz se é mais ou se é menos.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Domingo de cinzas

Não espere por um feriado ou final de semana pra dizer a alguém o que sente por ele, pode ser que esse alguém esteja viajando. Nunca gostei muito de curtir feriado, de fazer longas viagens nesse tempo marcado, ou de passar a semana me programando pra viver a partir da sexta-feira. As pessoas vivem esperando a semana acabar pra dizer ou fazer alguma coisa, mas já no domingo são desistentes. Isso de deixar tudo pra depois, menos o que pode ser deixado pra depois, isso que é feriado, que você chega exausto de tanto já ter esperado e não faz nada além de suprir o corpo com o imediato, deixando a alma guardada em meio a bagunça das roupas sujas. São tantas as obrigações que a gente não vê que entre elas sempre há o tempo dos sentidos, o tempo de olhar pela janela e ver o vento, de escutar o tempo, de sentir as cores de uma parede branca. Temos esquecido que nosso feriado é sempre o nosso agora e marcado no calendário quando, o que e como precisamos sentir essa vida. Adiados pro futuro, onde lá não se tem mais sentido nenhum.