Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

domingo, 29 de abril de 2012

Em estado de amor

O amor pra mim é isso que pensa e também sente, essa coisa que percorre nossa pele e arrepia, que dura pra sempre ou o instante de três segundos, o verbo que pode ser conjugado em todos os tempos, o concreto que pode ser quebrado ou a flor que talvez nunca murche. O amor não é mais nem menos, maior ou menor, melhor ou pior, é simplesmente o estar, e não o ser, como a tal vontade que dá e passa. O amor, como tudo no mundo, é relativo, transitório e finito. Não, não superestimo o amor, nem subestimo.

terça-feira, 24 de abril de 2012

"Diga não aos covardes!"

Um brinde aos passos minúsculos desses seres rastejantes. Andam na velocidade de uma boa notícia quando a ansiedade já extrapolou a lógica da espera.

Chega de meias bocas pra preencher profundos vazios. Meias bocas para beijar entradas inteiras. Meios beijos de respeito na testa. Meias palavras para dizer alguma coisa que, feita a análise fria, nada querem dizer. Intenções soltas e desejos desconexos. Esse mistério todo é uma violência contra a minha inteligência. Sejamos diretos para não sermos idiotas: eu te quero. Você me quer? Não sabe? Ah, então vá pra puta que te pariu. (E vá ser vago na casa da sua mãe porque embaixo da sua manga eu não fico mais!)

Este rebolado colorido que descola de seu cenário pastel, vem de meu ventre. Livre. Portanto não tente me escravizar, nem com promessas, intelectualidades, ou uma pegada daquelas. Este rebolado é quase que instintivo, meu jeito, nada sutil, apesar de ser essa a intenção, de te mostrar que há chances de ultrapassagem.

Seja inteligente, faça jus à espécie, seja Sapiens. Perceba o sinal verde, ultrapasse.

Não sabe se quer acelerar o motorzinho? Então vá treinar com uma boneca, uma revista, uma prima, a chata da sua mulher, a sem-sal da sua namorada ou o raio que os parta todos os mornos. Eu não sou morna e, se você não quiser se queimar, morra na temperatura do vômito.

E bem longe de mim. Ou venha me ajudar a ferver essa banheira. Vamos ficar cegos de vapor e vermelhos de vida. É sangue que corre nos meus sentimentos e não o enjôo morno de uma vida que se vai empurrando com a barriga. Barriga que vai crescer no sofá imundo dos acomodados. Eu ainda quero muito. Quero as três da manhã de um sábado e não as sete da tarde de uma quarta.

Vamos viver uma história de verdade ou vou ter que te mandar pastar com outras vaquinhas? Docinho vá fazer pra quem gosta de lamber o seu cuzinho, porque aqui nessa boquinha só entra cher nourriture . Vá contar esse seu papinho de "Hey, you never know" pra quem conta com a sorte e sabe esperar.

A sorte é sua de ser amado por mim e eu quero agora, ontem, semana passada.

Amanhã não sei mais das minhas prioridades: posso querer dormir com pijama de criança até meio-dia, pagar 500 reais numa saia amarela, comer bicho-de-pé no Amor aos Pedaços ou quem sabe dar para o seu chefe em cima da mesa dele.

Minha vontade de ser feliz é como a sua de gozar. E se eu te iludisse de tesão e levantasse rápido para retornar a minha vida? Você continuaria se fodendo sozinho para fugir da dor: é assim que vivo, masturbando minha mente de sonhos para tentar sugar alguma realização. É assim que vivo: me fodendo.

Chega de ser metade aquecida, metade apreciada, metade conhecida. Chega de ser metade comida em meios horários e meio amada em histórias pela metade. Chega de sorrir para o que não me contenta e me cobrar paciência com um profundo respiro de indignação.

Paciência é dom de amor aquietado, pobre, pela metade. Calma, raciocínio e estratégia são dons de amor que pára para racionalizar. Amor que é amor não pára, não tem intervalo, atropela. Não caio na mesma vala de quem empurra a vida porque ela me empurra. Ela faz com que eu me jogue em cima de você, nem que seja para te espantar. Melhor te ver correndo pra longe do que empacado em minha vida.

Texto de Tati Bernardi

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um tempo


No horizonte, me perco
penso, como você está?
Mas em meus caminhos, me encontro
sabendo como estou
Passos firmes, linhas tortas
Destino? 
O presente.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Seguro sem vida

Três segundos. Era tudo o que separava minha boca da dela. Dois. Então um sorriso torto e um olhar distraído pelos vultos que passavam bêbados entre a calçada e a pista nos separaram por mais uma noite inteira. No outro dia, talvez começasse tudo outra vez, se houvesse outra vez, aperto de mãos ou abraço, um "oi" e um descaso, depois de um tempo e de um vinho ou cerveja ou vodka, o tempo de outra conversa, quem sabe, e a mesma distância de um risco adiado, congelado em três segundos. É que juntei meus medos e agora eles me asseguram um pudor e uma timidez sem alma, que me rodeiam só pra me manter com os pés no chão, firme, fixo, de um vazio seguro, como sapatos na praia, que nos protegem de pequenos objetos pontiagudos, mas nos privam de sentir o friozinho do encontro entre a areia e o mar. Nunca mais estive na distância de um segundo.