Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Seguro sem vida

Três segundos. Era tudo o que separava minha boca da dela. Dois. Então um sorriso torto e um olhar distraído pelos vultos que passavam bêbados entre a calçada e a pista nos separaram por mais uma noite inteira. No outro dia, talvez começasse tudo outra vez, se houvesse outra vez, aperto de mãos ou abraço, um "oi" e um descaso, depois de um tempo e de um vinho ou cerveja ou vodka, o tempo de outra conversa, quem sabe, e a mesma distância de um risco adiado, congelado em três segundos. É que juntei meus medos e agora eles me asseguram um pudor e uma timidez sem alma, que me rodeiam só pra me manter com os pés no chão, firme, fixo, de um vazio seguro, como sapatos na praia, que nos protegem de pequenos objetos pontiagudos, mas nos privam de sentir o friozinho do encontro entre a areia e o mar. Nunca mais estive na distância de um segundo.

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