Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Quando tudo vira tédio

Por cansaço ou falta de vontade, não quero sair. Vejo as possibilidades, as companhias e lugares, nem muito nem pouco, apenas desinteressantes. Se ao menos tivesse certeza de que algo diferente fosse acontecer, mas parece ser sempre a mesma coisa, o mesmo papo, furado. Sinto como se estivesse investindo em nada, jogando dinheiro fora. Ao mesmo tempo, sei que ficar aqui não vai mudar nada. Mais vale o silêncio sozinho ou acompanhado? Emudeci porque já ouvi demais, o outro fala o que reflete em seu próprio espelho e, às vezes, isso não é suficiente. Só eu sei de mim, do meu tempo, da minha intensidade, dos meus sentidos. Em mim não cabe a equivalência do outro. Poderia arriscar e sair, uma companhia muda, ou uma conversa fiada, e alguns goles de cerveja, buscar uma embriaguez que alivie o corpo e a alma. Também posso me poupar, tomar uma dose forte e ir direto pra cama. Mas entendi que na introspecção não cabe nada nem ninguém.  Tudo vira tédio quando o tudo e o nada dão no mesmo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A deixa do amor

Às vezes sinto que vou morrer. Outras vezes, que já morri. O trabalho virou um ato mecânico, tento ser máquina, quero não sentir mais nada dessa dor de tudo. O lazer tem sido como fugas, sair pra não sentir a ausência, encontrar na vida do outro algo que abafe os ecos da minha. Não, nunca aprendi o que é o amor, mas sei o que ele é quando vai embora. Sem ruído. Sem silêncio. Sem desistência. Sem resistência. Sem esperança. O vazio que o amor deixa não deixa espaço pra mais nada. É uma dor que de tão intensa não é sentida, e você procura em qualquer estrago físico traduzir a densidade dela pra saber de si mesmo, sentir o que ainda tem por dentro pra não morrer sem sentir nada, senão você vira só mais um corpo, um número no mundo. Sentir-se dor pra sentir-se vida.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O descuido do mundo

Você quer o mundo e eu só queria ser o teu. Mas já não posso ser mundo, estou sumindo nessas vontades tão desencontradas, dentro e fora, e nesse corpo cada vez mais fluido me sinto adormecer de olhos abertos, uma insônia que me mantém alerta no escuro da noite e se apaga ao amanhecer. Meus movimentos perderam a agilidade, perdi meus reflexos. O que a gente vê agora? Estou frágil e não sinto fome. Dispenso companhias e imploro pela tua, fico só. E sinto que essa solidão cava um abismo cada vez mais largo entre nós, onde me enterro, me enterras. Abaixo do mundo que a gente quis um dia, enquanto você viaja outra vez.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A preguiça das letras de amor

o coração
perdendo as palavras
o timbre da voz
a firmeza da escrita
cada vez mais
achando em gestos
sutis
a comunicação.