Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Debaixo do peso de papel

Querido,

Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto – todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim, mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.

Texto de Virginia Woolf

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Vencida

Se tenho palavra?
Sim, a tenho
mas com prazo
e de validade
pois se conserva
qualquer verdade
azeda.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Apagaram tudo

"Aquelas plantas ali você derruba e depois pinta tudo de verde." Pois é assim, pintam, rabiscam, cobrem com lona, giz, carvão, pó, apagam. Em menos de 24 horas, veja bem, vinte e quatro horas, e a ciclofaixa voltou às origens, ao por vir, ao vai saber se vem; intervenção por vir? Tomara! Tentam a todo custo cegar o povo do próprio povo. O que o povo quer, dever querer, pode querer, precisa. Apagam toda e qualquer chama que possa incendiar a roupa de palhaço que veste nosso país. E ainda gastam nossa água! Pior que desse foguete às avessas só resta a fumaça a incomodar essa gente, a gente, e somente, que depois se volta, revolta, com os pulmões cheios de gás: "Não queima, que isso aqui é nosso também, porra!"; a seguir espalhando a cegueira, ajudando a cobrir de cinza as ciclofaixas, as pinturas nas praças, as praças, praias, casas, a gente. O que o povo quer?! Vai saber, não dão nem tempo dele querer! Do que o povo precisa? Com certeza não é uma cidade pintada de verde, nem de ciclovias pintadas com tinta d'água, nem de praças cinzas. Vinte e quatro horas. E eu me pergunto há quanto tempo aqueles números de campanha ali estão nos muros.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sem termômetro, nem bússola, nem pó mágico

Quando a gente ama, a gente cuida, quer o bem, quer o melhor, blablablá; Mas você só pode amar alguém quando ama a si mesmo; dizem àqueles pobres coitados que não são [mais] amados. Não se enganem, amor é como qualquer outro sentimento: dá e passa. Aqui, ali e acolá, por tempo, direção e pessoas indeterminadas. Ai vem alguém dizendo: amor da minha vida, pra sempre, até a morte. É, que seja, mas relacionamentos da Disney só existem lá, inclusive, podem até começar e acabar por lá mesmo. O que te faz querer passar o resto da vida com alguém, ou querer se prender a alguém pra sempre, é amor, sim, mas também inúmeros outros sentimentos que se sobrepõem nesse meio tempo. A separação ou a não reciprocidade é só o desequilíbrio entre eles, ou a falta deles. Não tem isso de amar mais, amar menos. Bom, essa seria até uma opinião negativa, mas é tão real e positiva ao ponto de que quando se tem essa mínima noção, tudo fica bem menos denso na hora de dizer: eu te amo, ou não te amo mais.