Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

As drogas da vida

Olhando por cima de já tantos passos dados, talvez possamos dizer de onde vem toda a lama nos pés dos viciados. Do cigarro? Do álcool? Da maconha? Da coca? Do crack? O que vem antes de tudo isso? A terra, o barro, o estrume. Morreu um jovem vítima do crack na semana passada. Seu pai, completamente desolado, começou uma campanha antidrogas. Logo na outra esquina acompanhamos os passos da marcha da maconha. O que vicia uma pessoa? O que mata uma pessoa? E a culpa é de quem? A culpa, cara, é da liberdade. A mesma liberdade que nos é tomada a partir do momento em que nascemos e, em vão, buscada até a nossa morte. Morte por crack, por tiro, por câncer, por ideal, por vida e por morte. O rapaz, um menino, vítima do crack, do pai, da sociedade e da liberdade reprimida. Uma droga e a sensação de uma falsa liberdade que intensa e constantemente lhe trouxe talvez o afeto por tantas vezes simples, mas negado, e só agora dado em doses altas e tardias sob a forma mascarada de uma transferência de culpa maior. Talvez. Ou talvez um afeto que não pode ser encontrado sob nenhuma outra forma, diferente de tudo o que lhe cercava e esmagava numa rotina imposta. Ou talvez uma escolha menos comum, e jamais aceitável, de simplesmente se viver uma vida colorida por cores mortas, que também são cores, a escolher. O diferente sempre foi espantoso até se tornar comum. Já somos privados e culpados pela vida incomum. Mas, então, a quem culparemos todas as mortes em comum? Podemos refletir antes sobre a culpa.