Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Pardal.

Eu também posso voar
aqui, ali e acolá, entre curvas
fantasmas das madrugadas
e pneus recauchutados
planando pela estrada cinematográfica
e por fotografias em preto e branco
num etílico desvirginado
entres cores borradas de um quadro negro
e fumaças e desvarios
e devaneios
intercalando clichês, ébrio.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O pouco que sobrou

É quando o silêncio de casa te devora, quatro paredes te sufocam, surge aquela vontade de se jogar no primeiro ônibus que te leve pra lugar algum e de encher a cara até com a pior bebida oferecida por qualquer um, que você percebe que sente falta do que realmente te faz falta. E é nessa hora, nessa maldita hora, que você pára, senta e chora, porque nada do que você fizer vai mudar o fato de que a única coisa que você quer fazer é simplesmente nada em lugar nenhum, mas só estar com alguém nessa casa e entre essas paredes.

- Los Hermanos num radinho de pilha.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sete Leis da Sincronicidade

1. Meu espírito é um campo de possibilidades infinitas que conecta tudo o mais. Esta frase resume a totalidade do que estou expondo. Se você esquecer tudo o mais, lembre-se apenas disso.

2. Meu diálogo interno reflete meu poder interno. O dialogo interno das pessoas auto-realizadas pode ser descrito assim: é imune a críticas; não tem apego aos resultados; não tem interesse em obter poder sobre os outros; não tem medo. Isso porque o ponto de referência é interno, não externo.

3. Minhas intenções têm poder infinito de organização. Se minha intenção vem do nível do silêncio, do espírito, ela traz em si os mecanismos para se concretizar.

4. Relacionamentos são a coisa mais importante na minha vida. E alimentar os relacionamentos é tudo o que importa. As relações são cármicas e quem nós amamos ou odiamos é o espelho de nós mesmos: queremos mais daquelas qualidades que vemos em quem amamos e menos daquelas que identificamos em quem odiamos.

5. Eu sei como atravessar turbulências emocionais. Para chegar ao espírito é preciso ter sobriedade. Não dá para nutrir sentimentos como hostilidade, ciúme, medo, culpa, depressão. Essas são emoções tóxicas. Importante: onde há prazer, há a semente da dor, e vice-versa. O segredo é o movimento: não ficar preso na dor, nem no prazer (que então vira vício). Não se deve reprimir ou evitar a dor, mas tomar responsabilidade sobre ela.

6. Eu abraço o feminino e o masculino em mim. Esta é a dança cósmica, acontecendo no meu próprio eu. A energia masculina: poder, conquista, decisão. A energia feminina: beleza, intuição, cuidado, afeto, sabedoria. Num nível mais profundo, a energia masculina cria, destrói, renova. A energia feminina é puro silêncio, pura intenção, pura sabedoria.

7. Estou alerta para as conspirações das improbabilidades. Tudo o que me acontece de diferente na vida é cármico. É, portanto, um sinal de que posso aprender alguma coisa com aquela experiência. Em toda adversidade há a semente da oportunidade.

Deepak Chopra

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Jardim

Entre borboletas e flores
vou colhendo somente o agradável
o bater das asas inquietas
a hesitação de algumas pétalas
e a liberdade de tê-las pra mim
soltas pelo jardim.

Não adianta prender, nem colher;
elas morrem mesmo assim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Bem quente, por favor

Parei de fumar há um ano, onze meses e sete dias. Nunca gostei muito de café, a não ser com muito leite, mas há algum tempo tenho me atraído pela harmonia das contradições. Assim como me atrai por ti e te trai por muito tempo, me enganando entre tantas doações. Cada uma, um certificado, te amava de verdade, te amei, ou te amo. Ainda? Está amargo demais o café, mais açúcar! que minha saliva só aguenta um veneno por vez, e desta vez, quente.

Foi numa relação incoerente como aquela que saciei minha sede inconsciente pelo amargo e suportei a falta que nem fez aquele cigarro barato, numa roda torta que me lançava longe e me arrastava pelo gramado falho até à praia, onde enfim me feria com todos aqueles grãos antes de me afogar no mar, e me salvar. Às vezes fico pensando nessa dependência disfarçada que cada um tem de torturar o outro com palavras ásperas sutilmente lançadas num encontro quase que mortal de salivas, cuspindo noite afora até recolher o veneno apropriado e agarrando as mãos entre outras e corpos despidos, já vulneráveis e atentos a um amanhecer promissor. Adormeci no melhor veneno que uma noite me trouxe, cega e sem nicotina. Permaneci noturna e limpa, quebrada, surda, enxergando com as mãos aquele veneno que aos poucos me corroia e me mantinha sóbria e que hoje em falta me causa ânsias, deturpa o meu reflexo, agora nítido e embriagado. Como ia dizendo, falta açúcar e sobra falta, vou bebendo o café mesmo amargo, quente, autoflagelando a saliva, até que fique insensível a qualquer outro sabor. Não diria masoquismo, nem sadismo, de torturas as impressões distintas confundem etimologias, falo de outras origens e fins, falo de suprimento, de preencher com nada aquilo que se ausentou sem deixar recado na porta da geladeira, nem mesmo no espelho do banheiro, de reação singular, julgada ali e acolá, admitida, recusada ou simplesmente despercebida. Ao lado, na pia, percebi na borra do café que tenho esse estranho respeito pelo estranho do outro que me tenta, nunca tive pelo meu outro, mas pelo do outro, como se tentasse pôr ordem no meu próprio, enxergando o estranho do outro, nunca o trai. Trai sim, meu outro, quatro ou sete vezes, e só reafirmei o meu amor, esse amor torto, amor? Trairia mais pra sustentar a queda, soprando e soprando numa tentativa ingênua de nunca deixar cair. E caiu, e ainda traio, resgatando qualquer falha nas paredes de um abismo retilíneo pra escalar de volta ao topo, ao auge, e me jogar de novo, e de novo, até que meu corpo se torne invulnerável e alcance aquilo que chamam de plenitude. Pleno não sei de quê, essas filosofias ainda me confundem, acho que porque não acredito mesmo num fim pleno, mas num pleno fim, tentam disfarçar pelos cantinhos do caderno essas obviedades que cada vez mais me tornam cretina, bebendo o café mesmo que amargo à espera do açúcar, que furtaram. Odeio furtos, fazem me sentir a pessoa mais débil do instante, todos veem e eu, cega, sou furtada. Pura cegueira emocional, que deixa tremulas as pernas que um dia já correram por ai sem medo de cair, nem pensavam em cair, mas caia. E esquecia. Hoje lembro de quase tudo, só não do primeiro beijo, da primeira transa, dos teus defeitos que me deixam irada na hora em que, louca, quero tanto te ligar, e de outros detalhes importantes que já passaram da validade, um curto prazo. Lembro do açúcar, cadê?

Um ano, onze meses e oito dias. Quebro o jejum e aguardo a próxima ordem de cessar fogo, sempre fazendo tudo errado pra que venha esse maldito vício e me faça parar, talvez por 2 anos, quem sabe, ou mais, ou menos. Açúcar? Ou café?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Uma decepção diferente


[...] Mais difícil tá sendo engolir uma solidão daquelas bem agosto comme il faut. O senhor Paulinho Ventoforte me deixou como recuerdo uma falta de gosto pelas pessoas & coisas... Trata-se de uma decepção diferente: não penso obsessivamente, não tenho vontade nenhuma de ligar nem de escrever cartas, não tenho ódio nem vontade de chorar. Em compensação também não tenho vontade de mais nada. Uma grande, uma enorme, uma devastadora falta de saco para qualquer pessoa. Até rolaram umas possíveis galinhagens, mas não tô aqui mais pra isso, depois, ai haja forças para fazer caras & bocas, dizer coisas, arquitetar encontros, telefonemas...

Caio Fernando Abreu
(Carta a Maria Clara Cacaia Jorge)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Furto.

Levaram o som do carro com meu cd mp3 novo. Levaram minha bolsa nova. Meu caderno com minhas anotações, conteúdos, meus textos. Minhas revistas de Filosofia e Literatura novas. Minha carteira, o dinheiro, o espelho, o cartão de saúde, o cartão telefônico, o cartão de crédito, a foto 3x4, a asa da borboleta, a asa da libélula. Minha chave de casa com o chaveiro. Minha lembrancinha feita à mão. Minha primeira identidade. Meu estojo, minhas canetas, minha caneta quase acabada, meu pen drive, minha escova de dente, minha borracha, meu apontador e meus lápis. Levaram minha noite, minha diversão, minha anestesia. Algumas lágrimas, muita raiva. Levaram a última gota de ingenuidade social. Deixaram uma porta arrombada, mais uma decepção, menos pena e os "se", que vão corroer minha mente por dias.

Só quero meu caderno.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

De papel

O amor se faz num barquinho pelo mar que desliza sem parar
.
sol, ondas, vento, naufrágio, papel, reconstrução, barquinho-coração, mar, amor.