Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 31 de março de 2010

Recado na geladeira

Querido Sono,

Esta noite, esperei por ti a noite toda. Não me decepcionei. Acostumada, apenas esperei. Mas ó! Não te acostumas, tá? Pois não pretendo esperar muito nem sempre. Só o tempo de uma vida inteira.
Com carinho,
Insônia.

terça-feira, 30 de março de 2010

Vo[lt]a.r

É um estar-se preso por vontade...

Abriu-se
Rompeu-se, talvez
A porta
e a gaiola
O pássaro
e as asas
um voo
colorindo algumas curvas
turvas
retocando falhas
e telhas
cansando
tantas cores...
O vazio
a saudade
a falta
a vontade
e a gaiola
a porta aberta
o pássaro
o algo
o retorno
e o repouso.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Reformulando ideias

 O homem é, não apenas como ele se concebe,
mas como ele quer que seja.
Como ele se concebe depois da existência,
como ele se deseja após este impulso para a existência;
O homem não é mais do que ele faz.

Jean-Paul Sartre

sábado, 13 de março de 2010

Sem.

As noites clareiam ao amanhecer e tenho estado insensível demais pra entender a causa. Os infinitos passos que deslocam essas horas e trazem a luz no dia seguinte me deixam cansaço e um corpo dolorido; e agora a vista dói demais. Mais magra, copos na mão, um descaminho e essas noites em ruas estranhas, não mais me percebo nem sinto falta. Não estou indo em frente, para os lados, cima, baixo. Nem voltando. Nesses dias, não tenho sido nem estado. E não quero. E quero muito. Sem nada, tudo, sem tons nem melodias, me reconstruo num universo oco com tudo e nada. Mais abatida, cheia de trabalho, um filho, um feriado e nenhuma vontade, além de evitar transpirações e conspirações. Chego e saio, mal percebo, saio de fora pra dentro, chego no ponto de partida. À noite, uma mente que não pára, confusa à meia luz, captando e raptando raios quaisquer que reacendam a partir dos rastros de fumaça um querer verdadeiro e não apenas outro dia que se encerre noutra manhã.

Ontem o céu clareou à base d'água.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Dor.mente

— Não.

Partira-se não ao meio, nem à meia luz, mas sem métrica qualquer e exposta ao sol do meio-dia a corda do equilibrista. Partiu partido, quebra. Não! Anestésico, o efeito não sentido, dor, caíra? Partira. Um salto que deu errado ou um rebento, a rede próxima ao chão, a proteção. Protegera? Partira. Não! O vai-e-vem, um balanço inconformado, volta, vem, vai, cai. Fora? Partira. O solo infértil, pueril, a seca de uma queda brusca, abrupta. Prevera? Partira. É a temporada das falhas, são as cores rabiscadas num plano instável, volúveis pinceladas em desalinho. Pintara? Não! Partira. Dormente? Mentira, não mente. Nem sente.