Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

domingo, 28 de novembro de 2010

Com vinho, poesia ou virtude...

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: “É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso”. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Texto de Baudelaire

domingo, 21 de novembro de 2010

Aquela tarde

O dia surgira repentino naquele Domingo, sem sutilezas, parecia um meio-dia de céu sem nuvens. Um "bom dia" seco despertou o que ainda insistia em aproveitar alguns minutos a mais de sono, levantou-se. Ela já no banheiro de frente ao espelho, tentando dar importância a algumas curvas tortas, deixava escapar um olhar perdido, indiferente a imagem refletida, refletia-se pra dentro. Carolina nunca foi boa em disfarçar ansiedades, preocupações ou paixonites. Ele fingia não notar, nunca, e naquele Domingo mais ainda se mantinha alheio aos sinais de Carolina. Sentou-se na cama tentando criar forças pra acordar o dia que não precisava ser acordado, a não ser para uma caminhada na praia, como faziam há algum tempo juntos. Caminhada, corrida, um breve mergulho, água de coco. Ela insistia sua companhia e ele passou a acordar cedo em todos os Domingos, não durou muito. Agora ficava ali na cama sonolento, observando todo o ritual de Carolina antes de sair, blusa, short, meias, tênis, cabelos, batom, os mesmos passos, o mesmo entusiasmo. Mas aquele olhar o inquietava, não de uma forma aparente ou consciente, pois não se importava, só o fazia prestar mais atenção naquele dia, naquela manhã e naquela mulher que por alguns instantes parecia uma desconhecida. Pensava nas manhãs de Domingo, o quanto se tornaram assim repentinas, frias e cada vez mais com olhares perdidos ou distantes. O que estava acontecendo? Havia outro? Outra? Ou simplesmente não havia mais nada? Deitou-se sabendo que não voltaria a dormir, que o olhar de Carolina quando saísse pela porta ficaria ali, nele, olhando pra dentro e pra fora, criando imagens e ideias involuntariamente. Poderia ir com ela, evitar a insônia matinal e uma mente perturbada, mas não, não se importava o suficiente, talvez tanto fizesse, ou talvez só quisesse dormir até um pouco mais tarde ao menos nos Domingos. O que importava era que ela saísse logo, pelo motivo que fosse, e o deixasse sozinho por algum tempo, mais tarde pensaria naquele olhar.

— Até mais tarde.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Enjoy


Quero não esquecer que essa vida é efêmera
e a felicidade um pretérito imperfeito.

Sem fantasias

Que nas surpresas tão necessárias do dia a dia transpareça você,
mais suja que o desejo de uma mente insana.