Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Escrita a dois

Traço o corpo dela com a tinta dos meus dedos, crua, promiscua e de uma sensibilidade que nem a pena do mais nobre dos poetas possuiu um dia, e as palavras vão saindo tão naturalmente que não cabem numa poesia, mas num filme mudo e em preto e branco que, aos poucos, vai ganhando cores e sons em tons singulares, o meu e o dela, ambas contracenando. Movimentos improvisados, rimas sutis, frases curtas, textos objetivos e cheios de subjetividade, aquela que só a gente sente, eu e ela, várias histórias numa só, sem a morte do ponto final que precede a rotina, o óbvio e o diálogo monossilábico. Enquanto chove lá fora, e aqui dentro, não escrevo numa folha de papel lamúrias de um passado, nem forço arte, fico lembrando do corpo dela de ontem e de hoje e rabisco meus dizeres nas paredes e no quintal, carvão, guache, só pra enrolar até a hora de sua chegada e de uma nova página, outro roteiro.

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