Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Making of

Procuro em teu rosto delicadamente severo algum traço de mentira, mas não consigo encontrar. Você passa pela porta, para e sorri como se eu fosse a única ali na sala e eu acredito, porque você me deixa cega, não vejo que logo atrás tem outras pessoas e que dentre elas, tem as que te conhecem tão mais do que eu, ou reconhecem outras faces, e me dizem que não é você a que é pra mim. Olho bem e não consigo mesmo ver traços de mentira, mas posso perceber face sobre face disfarçando qualquer rastro no sorriso da pessoa que um dia se pôs tão frágil diante dos meus braços já tão cansados, suplicando cuidados, desabafando desilusões. E eu me perco entre algum desses rostos, não sei mais quem sou nem o que sinto, só me pego pensando em você como se acreditasse em cada palavra que ecoa nas minhas lembranças e desejando que esteja comigo outra vez, segurando a face que me mostrou, tentando a todo custo mantê-la fixada ali pra não ver os traços que tanto dizem por ai. Acredito sim que você seja várias, pois até sempre convivi com isso, você com tantos outros e comigo. Mas não posso acreditar que, dessas várias, a única pela qual me apaixonei seja a mentira mais reluzente, a que não cabe em mim, se um dia me foi por tão completa. Leio o que você escreve, ouço o que você diz, procuro em cada linha algum rastro, coisa qualquer que me acorde e diga que não é mais a minha verdade, mas não, não encontro, nem você nem eu, só uma jura acobertando todo o resto e dando corda no relógio até marcar a hora certa, trezentos e sessenta e cinco faces e um ato por detrás das cortinas.

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