Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Silêncio

Ando lendo menos, me dedicando mais. Tenho andando menos também, ficado mais tempo parada, pensando e vivendo apenas o "momento presente". Tenho disparado meu coração em vão, mas jogado palavras em ouvidos que se esforçam pra me ouvir. Tem alguém que quer me ouvir. Existe quem queira parte do meu abraço. Mas você não há. E eu volto pra esse momento, em que você não há. Ele é ausente e latente. Nele, sinto saudade de alguém que também não há. Houve? Se é passado, então invento, te recrio numa forma que me fez feliz e que agora me faz sentir essas coisas. Você, que eu amo, é passado e, talvez, até futuro, é tudo aquilo que eu não posso tocar nem viver, é um platonismo quebrado como tantos outros que já tive, é uma total abstração do que já sentimos. Nesse momento, em que você não há, posso ouvir o eco do meu coração batendo dentro do meu corpo, me sinto carne viva. Posso pensar em você e tentar imaginar o que está pensando nesse momento, em que eu não sou. Posso, mas logo me deixo voltar como uma pena se deixa levar por um vendaval ao "momento presente", pois talvez você já esteja em outro presente e eu não quero esse pra mim. Então eu volto pro meu tempo, em que você não deixa de ser, mas que aprendi a estar e a ser bem mais presente, mesmo que à parte de tudo, porque você não há e ainda continuo a te buscar pelas esquinas que passo torcendo pra não te ver.

- O tempo não existe.
- O tempo existe, sim, e devora.
- Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
- Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
- E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(Silêncio)
- Mas não seria natural.
- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
- Natural é encontrar. Natural é perder.
- Linhas paralelas se encontram no infinito.
- O infinito não acaba. O infinito é nunca.
- Ou sempre.
(Silêncio)

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