Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

domingo, 15 de maio de 2011

Vitral

O que eu vejo por ai não são pessoas, são representações. Sei que tudo nesse mundo é isso mesmo, mas as pessoas assim se tornam duas vezes mais matéria, menos alma. Vejo cascas, não casas, atrás de um copo de bebida, de um livro, de fones de ouvido, carros, roupas, tintas, quadros. Fazem de si uma obra barata, comum. E por detrás dessas pessoas, vejo você, escondida, envergonhada por ser tão crua, por não estar inserida nesse mosaico. Terapia, clínica, entorpecentes, porque só há tratamento pro que está exposto. E você está. Em carne viva, sensível, adoecida do que deveria ser cura. O teu reflexo é em si mesma, porque você é vidro, não espelho. Denso, transparente, rígido, frágil, cortante. O espelho tem identidade? Não queira ser espelho. Não queria ser eu. Estou numa representação, palco mofado, público pobre, luz, câmera e ação, mas na minha não há tantas falas, espero que sinta meus apelos nos meus gestos apáticos, é que não sei mais encenar, falta eu, falta essência que aos poucos foi se perdendo em tantas estreias. Vê? Nem pierrot, nem arlequim. E você querendo estar no palco... Não precisa subir lá, não precisa aprender a representar. O que eu vejo por aí não são pessoas. E vejo você também, com medo de machucá-las por não poder refletir a vaidade delas.

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