Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Anatomia normativa

Adoecida, da alma ou da vida, seja lá o que for, estou perdendo todas as palavras que um dia pude traduzir qualquer dor de cabeça, gripe ou febre. Restam-me apenas tosses secas, uma face pesada e um corpo. As letras que me rodeavam acobertando minha pele, me fazendo sentir, agora se embaralham, se perdem em si mesmas. Erro os termos corretos, a gramática me foge totalmente, há falhas até na sintática dos meus pulmões, densos, que se contradiz a cada respiração, uma secreção agarrada em mim que se mostra ali, mas se nega a sair, um sintagma. Dores nos olhos, nas costas. Um dicionário e um corretor ortográfico automático vão me guiando pelas linhas, como remédios para um alzheimer linguístico. Aliás, remédios não, mas relaxantes, pois não sinto cura, não há. Amnésia. Doente do intelecto. E tudo por causa de um coração batido em dois, três, quatro, choque! - É psicológico! - São as noites frias! - É a alimentação! - Não, é falta de água!... É escassez ou. Faltam-me antônimos e me sobram sinônimos. Cinco, seis, sete... Há um certo cansaço no peito, na mente, por vezes, nos pés, e um pensamento cada vez mais longínquo, disrítmico, junto a sensações, sem semântica nem semiótica, só fonemas. Oito, nove, dez...._________________

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