Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Nada demais

Foi só um amor-mal entendido que não soube perguntar se eu estava indo ou voltando quando nos esbarramos na porta da frente. Ele passou direto; eu o acompanharia se não tivesse dado as costas e retornado à cama, pensei que iria atrás de mim. Se não tivéssemos olhado para trás, nem teríamos notado o desencontro. Mas olhamos e mesmo assim seguimos rumo ao nosso próprio destino, nesse egoísmo inevitável de ser. Com ele, eu seria fragmentada, mas bastaria. Quero tanto ser que acabo sendo, sozinha, uma completude em falta, uma identidade plena que de nada me serve agora que ele veio e se foi sem ao menos dizer seu nome. Quero tanto ser que esqueço o que mais quero: ser quebrada assimetricamente e espalhada por ai, sendo tudo e nada, incompleta e cheia de defeitos, um erro orgulhoso por ser criticado, um maltrapilho de sentimentos desgovernados que desequilibrem minha razão me mantendo consciente, um devir angustiado à espera de um altar absoluto que me estagne e ponha um fim perfeito, uma esperança em infinita renovação, sendo feliz por não ser, estando com esse amor. Ser inteira por estar em pedaços.