Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sobre a mesa

Amor é que nem cozinhar: tem quem doe, quem venda, quem compre, quem troque. Quem saiba, quem não saiba nem queira, quem tente, mas nunca acerte. Tem gente que gosta de cozinhar pra desconhecidos, fica lá na sua cozinha despejando tempero pra tudo que é gente, e ainda recebe por isso, dinheiro, obrigados em massa, simpáticos ou tímidos. Vem com nome, fama ou anonimato, mas não tira a mão da massa. Já tem gente que prefere um jantarzinho mais particular, vai às compras e escolhe cada ingrediente com esmero, nada muito maduro ou verde. Alguns cozinham aos montes. Outros, pequenas porções. Uns atentam pro sabor, outros, pra beleza. Há quem consiga os dois. Tem gente que prefere fazer o molho, outros gostam mesmo é de comprar pronto. Molho branco, tomate, madeira, 4 queijos, ervas finas. Tem quem pique tudo direitinho, tem quem jogue tudo logo na panela. Pimenta e sal a gosto. Uns optam por assados, fritos, cozidos, mal passados. Carne tem que ser bem suculenta. Tem o forno, o espeto, o óleo quente. Vegetarianos tratam de inventar de um tudo pra encantar mais e mais gente com outros temperos. Tem quem faça uma mistura de tudo e mais um pouco. Uns pensam no sabor, outros na balança. Tudo faz mal e faz bem, na quantidade ou na validade. Às vezes passa do ponto, às vezes queima, às vezes fica cru. Tem quem prefira plantar o que come, tem quem nunca nem tenha pensado nisso. Amor de cozinha começa na primeira semente que brota no pasto do outro lado do país, semente que cai das mãos suadas ou da boca de um pássaro que voa sem saber ainda pra onde vai.

Nenhum comentário: