Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Calma, alma, lama

C A L M A, foi assim, em letras de forma e com um certo ar de separação. Você estava tão bêbada naquela madrugada que nem conseguia falar, mas mesmo assim percebeu o quanto eu estava atordoada com o seu silêncio, que não era só de embriaguez, mas também de dúvida. Te tirar daquele show talvez tenha sido a pior coisa que eu tenha feito, ainda tento me arrepender, mas você sabe, arrependimentos não são do meu feitio, acho que esqueceram de me dar uma consciência meio pesada. Só me interessava te tirar dali, do próximo gole de cerveja que, cambaleante, você ainda teimava em beber. O motivo não era certo nem errado. Erro, só o meu. Foi quando te sentei em frente ao mar e fui atrás, louca, atrás de água, com gás, pra incitar vômito mesmo, o que fosse pra te livrar um pouco do peso que eu mesma havia provocado. Mas não me importava. O peso, a bebida, a água, o show, o amigo que oferecia mais e mais, a menina que te cantava mais e mais, nada. Que vomitasse tudo, depois voltasse pra casa, pra cama. Comigo ou sem mim. Calma. Até hoje, sempre que me percebo insistente, ou desistente, penso naquelas letras mal escritas na areia, totalmente ébrias, totalmente débeis. Alma. Sempre me falta quando preciso ter calma em vez de me jogar nesse jogo tosco que é o nosso amor. Lama. Que veio com toda aquela chuva, mesmo sendo verão; até onde moramos o clima é contraditório. Todos os nossos amigos ainda estão doentes, não sei se você também, já faz uma semana que não nos falamos, nem sei mais da tua temperatura. Mas eu não, não adoeci dessa vez, só a cabeça que pesa um pouco. Voltei esta tarde ao mesmo lugar em que rabiscastes a praia, buscando algum alívio: uma água, sem gás, mas longe de ser mineral. Juntei um pouco de areia e tracejei linhas que nunca trariam a leveza de uma completa e trêmula mão bêbada como a sua. C al m a. Sabe, te espero, mas não me espere mais.

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