Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chuva, lama e sujo

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de ummovimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'."

Sabe, Caio... Há sol quase todos os dias, inclusive está fazendo um calor terrível em toda a cidade. Esse tal impulso ultimamente tem me deixado marcas irreversíveis, não como estes cortes em minhas mãos, não do lado de fora, ou pelo menos não só do lado de fora, pois minha aparência também está horrível e ando mais sem graça do que nunca, digna de pena. Sinto como se um câncer começasse a expandir em todo o meu espírito, e olha que nem acredito nessa divisão entre corpo e alma. Sinto o gosto de sangue das feridas que rodeiam essa alma. Já se passaram meses e não passou, Caio, as dores insistem sim, e mesmo sendo empurrada para o sol, o mar e novas estradas, que de repente apareceram e de nada serviram, ainda há a velha estrada de barro atrás de mim e eu gostaria de voltar por ela, por aquele caminho enlamaçado que gosto de andar pulando nas poças e topando nas pedras, caindo. Eu estive contente outra vez, talvez ainda esteja, brindo em muitas noites imersa em sorrisos deliciosos. Sim, estou contente. Na verdade, muito contente. Entre todas essas estradas ensolaradas e com belos litorais. Mas não tem sido o suficiente estar contente. Há poucos dias atrás tive a chance de chorar de novo. Agora entendo sobre contentamentos descontentes. Quero chorar de novo, Caio. Quero que passe e eu possa chorar de novo. E ai sim, numa tarde de Domingo enterrada no sofá à meia-luz do entardecer pensar "Estou contente de novo".

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