Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cap ou pas cap?

Te desafio. A partir desta tarde te desafio, sofia. Mas primeiro preciso limpar os óculos, tão embaçados, ontem quase não enxerguei as letras do velho caderno, aquelas confissões que te fiz em segredo, você as leu? Queria que sim, espero que não. Aquela caixinha, desenterrei do fundo do armário, ainda estava com cores vibrantes, acredita? Pois estava. Assim como os desenhos amassados ao fundo. Estavam ali, vibrando. O vermelho estava vermelho, o azul, azul, e o verde, mais verde do que nunca. Até o amarelo estava radiante. Sabe aquele poema? Reli e até entendi. Até gostei. Só o disco estava desgastado, não tocou. Talvez esteja na hora de fazer outro. Ou de mudar as músicas. O que acha? Sofia? É, pois me ouça: Vamos mudar as músicas e fazer outro. Que tal? Podemos até dançar! Aqui mesmo nessa areia grudenta em meio à maresia. Você sabe que eu odeio maresia, também sabe que só estou aqui por ti. Ainda pensei em não vir. Você sabe que eu viria, mesmo pensando em não vir, eu viria. Como sempre fiz, sempre vim. E você? Sofia? Sim, te trouxe um vinho, ia esquecendo de dizer, está aqui em algum lugar, tenho andado com a mochila tão cheia ultimamente. Aqui. Aquele que você gosta. Aquele que nem vinho é. Lembra quando descobrimos? Foi decepcionante, depois bom. Beber um vinho que não o é, é brincar de fantasiar. Você sempre gostou de fantasias, eu as escrevia. Posso escrever pra ti, sofia. Aliás, só escrevo por ti, sabe aquela inspiração? Está voltando. É como se você estivesse por perto de novo soprando em meus ouvidos. Pois olha o que escrevi: um poema. Você sabe que não gosto de poemas, você sabe, não sabe? Mas gosto de ti. E escrevi. Toma, lê. Outro dia. Agora toma, bebe. A gente bebe e o mar fica de ressaca. Também te trouxe salgadinhos. Aqueles que te prometi um dia. O mar está estranho hoje... Talvez sejam as nuvens, vê como cobrem o sol? Audácia. Estamos cobrindo toda a praia. Num dia qualquer, numa tarde qualquer, nada especial, a praia é toda nossa. Essa maresia está me apagando, sofia. E mesmo sem sol estou derretendo. Estou indo embora, sofia, você sente? É tanta areia, tanto vento, tanto sol por ai, não aqui. Não me deixe sumir assim, não me faça sumir. Não quero sumir, sofia; isto me faria te perder também. Sabe aquele amor que um dia nos prometemos? Ele não está sumindo. Está queimando sem derreter nem virar cinzas. Mesmo sem o sol de agora. Se pudesse, trocaria de lugar com ele e depois o recuperaria. Sabe quando você sente que pode tudo? Poderia mergulhar nesse mar e ir fundo, fundo, te trazer o que quiser. Você quer? Você ainda quer? Tua ausência me fez ver o quanto amadureci, isso é bom, não é? Mas agora estou apodrecendo, estou sumindo, sofia. E é você que está me apagando. Por isso só sinto que posso tudo. Não posso. Posso? Posso te encontrar de novo? Podemos sentir a água de novo, sofia? Podemos sentir? De novo? Sofia? Pois te desafio. Me permita a te desafiar, sofia, e aceite.

2 comentários:

Lorena Lílian disse...

"Só o disco estava desgastado, não tocou. Talvez esteja na hora de fazer outro. Ou de mudar as músicas."

Sofia mais parece ser o disco que uma pessoa.
no coração do poeta o "disco Sofia" tocou tanto que está desgastado, tanto eh que naum toca mais e ele quer tê-la de volta.
quer melhoras suas músicas ou melhor, fazer um novo disco.

no final então..
penso que sofia nunca existiu ou era muda. parte da mente inquieta do poeta.
xD

>>viajei ehuiehiuhiueh

Sue Barroso disse...

na verdade, ela se tornou muda. Talvez se as músicas mudassem, ela tocaria de novo...