Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Impreterivelmente, sem hora marcada

Sim, nos amamos. Mas você ama alguém que não sou eu e eu amo alguém que não é você. E foi depois de finalmente compreender isso que percebi: amo você; quem você era. Só que não se pode ficar com quem era, porque quem era não existe mais. Nos amamos no pretérito, sempre sonhando com o momento certo de fazer valer cada gesto, adiando as emoções imediatas e nos prendendo somente ao conceito delas, ao descontentamento que é colocar em prática o que realmente se sente, aqui e agora, por medo de perder aquilo que se tem por dentro, mas já perdendo pelo simples fato de guardar essas coisas sob o mofo de um corpo viciado nas conveniências que mantém fechada a gaiola de cada um. Cada um cantando no seu canto o seu canto de vazias vivências. Pois que nem todo mundo trocaria todas as grades de uma gaiola por apenas um pedaço de tronco de árvore, achando que ficaria à mercê das estações do ano e do desgaste que é viver por si e pelos outros, esquecendo que o calor, o frio, as flores e também as folhas secas e soltas é que colorem o mundo, aliviam e movem nossa alma, essa que não tem voz quando cantada sozinha. Há sempre quem prefira viver de fora pra dentro, sob a medida de quem também não ama, também se iludindo sobre o amor de sua vida, acreditando que é de sua vida, sem saber que já era. Eu sei. Ou sabia.

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