Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sábado, 14 de março de 2015

Aquemquiser

À beira da despedida, o desperdício do tempo. Já dava quase o último trago quando ele resolveu aparecer. A chuva cessara, mas o clima ainda pesava, mantive o guarda-chuva aberto com a outra mão. Nos demos um breve “oi” e entramos. Sem muita conversa, pedi o prato de sempre e o encarei, esperando que desse a primeira palavra, ou pelo menos o último adeus. Hesitou antes de dizer que me visitaria em breve ou que eu poderia ir a qualquer momento vê-lo, que a porta estaria aberta a qualquer hora; não dei muita atenção, pois nunca havia sequer tido porta, nem convite, nem disposição. Só havia minha vontade e impulsividade que me fazia ir encontrá-lo, nunca me dei o privilégio de negar meus desejos e esperar que os dos outros me mostrassem o quanto ainda me desejavam. O tempo sempre foi coisa do passado pra mim. Estávamos ali, encostados, inventando assunto pra curar a distância que já nos separava e desatar o nó que não podia mais nos prender naquela cidade. Partiríamos enfim. Quando começou a resgatar nossos momentos de plenitude, o interrompi, deixei a taça do melhor vinho dali pela metade e parti. Decidi dar ouvidos apenas ao que estivesse por vir e me joguei no primeiro táxi em direção ao centro, onde me esperava algum desconhecido que se despediria da forma simples e composta que pedia aquele clima: uma cerveja, um cigarro, uma transa, um adeus, e nada mais que isso.

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