Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Da minha conta

Acabei de vir do banco. Quando eu era criança, dizia que nunca iria abrir conta em banco, que queria o mínimo de vínculo com a sociedade possível. Incrível como a gente vai se deixando domar com o tempo. E lá foi rápido, pouca documentação, pouca burocracia, aparentemente, fora o fato de eu ter assinado meu nome sete vezes seguidas, quase uma tortura. Detesto quando preciso assinar meu nome, toda a preguiça do mundo se concentra na minha mão, a letra fica mais horrível do que já é e fica sempre a tensão de não estar assinando certo. Enfim. Dentre todos os meus conflitos vindos desde a infância, nenhum esteve ali diante de mim e da moça que me atendia. Somente um, desses corriqueiros que a gente nem sente, nem dá importância, me deixou apreensiva: quando ela me pediu uma referência, algum contato pra deixar registrado caso eu estivesse ausente. Não soube o que responder e aquilo tomou meus pensamentos de tal forma que muita coisa ficou clara naquele momento. Por algum tempo tive uma referência e era algo instantâneo quando eu precisava. Mas agora, agora eu não tenho mais. Foi então que eu percebi até onde se estende um relacionamento, a dimensão que ele tem, e não é o que eu vejo muitas vezes por ai. Relacionar-se com alguém é assinar um contrato secreto cheio de condições sentimentais e sociais, é uma cumplicidade bem mais complexa do que só compartilhar segredos de liquidificador. Enfim, senti e entendi isso. Dei a referência da minha mãe pra moça, não tive ideia de qual outro nome dizer.

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