Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Abismo horizontal

Você vai e me busca entre os meus lençóis antes de partir, depois volta, me revira, revista, e tão fácil me põe de lado, porque me ponho fácil pra ti. Os dias vão sem conversa, sem carinhos, sem contatos, se constroem caminhos contornados por relógios e bússolas divergentes, e eu me faço sem sentidos por ai pra não perceber essa ausência que o abismo horizontal do nosso amor refaz toda noite, e também me calo, aos berros, junto ao teu silêncio, tentando manter ainda qualquer cumplicidade. E você vai, e você volta, e a gente fica nessa náusea que é o não saber, não querer saber, não precisar saber, a ignorância, o ignorar. Mas eu quero e preciso, pois não sei. É que nessa dormência sinto meu eu se dissipando, se tornando um corpo cada vez mais corpo, uma dureza frágil que ninguém mais ousa tocar a evitar que alguém se machuque. Às vezes vejo nossas promessas vagando pelos ares, evaporando depois de cada tempestade pouca, e me pergunto o por que de tanto vir se você simplesmente não chega, porque depois de tanto eu ficar te desapresso. Não há mais o talvez, o se, o sim, o não, culpa nem desculpa, há somente o vazio do desencontro de duas vozes que calam e do encontro dos beijos antes das tuas partidas e o comodismo que é manter essa porta entreaberta.

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