Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Aos quentes e letristas

O que está me esquentando nessas noites de inverno é o amanhecer que risca no céu um sol raso, um vento abafado, e meias nos pés. É o jeito de inventar o que aqueça a dor e a adormeça, o espontâneo e o contraditório, qualquer escrita sem nexo ou balbuciar de um riso solto. E também a distância de gente que não dá ponto sem nó, daqueles que contam os passos antes de chegar em casa e não reparam no chão, no quanto ele vai mudando de casa em casa, e quando chegam não pensam mais em nada, porque o mundo lá fora acabou a partir do portão da frente, trancado e sem brechas, e a porta da madeira mais dura, outra porta, mais trincos, mais trancos, vão terminando de entrelaçar os nós, dos que pouco agem por impulso, ou por muito pouco acham que já foi o suficiente, desses que se escondem pra vida curta do dia-a-dia por uma longa vida nos calendários, nos carros e lugares mais caros, destes que recolhem o coração num marca-passo, amedrontados, e de ti, que na minha frente não derrama uma lágrima, não desperdiça uma palavra, não conta as horas pra me ver e não perde mais tempo dedilhando o violão, ora tenha ao menos dó.

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