Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro tornar-se cinzas?
(F. Nietzsche)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Linha delicada, traço desbotado

Esperava toda manhã a moça sair do quartinho para a ceia matinal. Ela usava sempre um vestidinho de cores claras e uma sandália suave que mal apegavam-se aos seus pés. Eu ficava no corredor com um livro na mão; não lia não. Os cabelos eram leves, quase não suportavam a brisa dos meus suspiros. Sua pele, pura seda. Os seus passos marcavam sensibilidade naquele chão acinzentado. Suas mãos refletiam pureza ao fechar a porta. Todos os dias a esperava passar pelo corredor e era o suficiente. O por-do-sol, que tanto me encantara, agora passava despercebido. Se ela me notava, não sei, pois decerto eu era discreto como a flor que aprecia desde o voo da borboleta até o pouso breve em suas pétalas fragéis.

Ela passava, eu fingia que lia e em toda manhã acontecíamos.

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