Ame. Coma vegetais. Beba água. Caminhe. Escove os dentes. Durma. Tive uns sonhos noite passada, em todos houve uma pausa embaçada, e despertei; cada sonho, uma recordação, uma vontade, um travesseiro. Logo adormecido. Já na manhã decidi mudar a rotina e começar pelo café da manhã, deixei pra sentir sua falta só depois do almoço, que não comi, emendei o trabalho e remendei alguns trapos esquecidos. No final da tarde, pulei o chocolate com o carinha da gráfica e a cerveja desacompanhada da menina do bar, fui direto ao cinema e vi filme nenhum, desisti na entrada e joguei o ingresso no lixo; deixei o outro que havia comprado por costume na beirada da lata. Peguei o primeiro ônibus que passou e me perdi quando dobrou a primeira esquina, desci e continuei meu trajeto a pé a lugar qualquer. Tentei mudar minha rotina, mas acabei fazendo tudo de novo, então, enquanto entrava no táxi, resolvi te ligar pra contar do meu dia, como te contava dos meus sonhos, como te falava das coisas que me lembravam de você. Depois do terceiro toque, joguei o telefone pela janela e decidi encomendar outro travesseiro, outro lençol e outra vida. Cortei tudo o que não me fazia.
terça-feira, 31 de março de 2015
quinta-feira, 26 de março de 2015
A dor que não é minha
O som emudece de segundo em segundo
Aos poucos se torna constante
E em instantes
Percebo que não estamos sós
É o aparelho que delineia
Gota a gota
Um destino sem desatino
Que esperneia
Mas desfalece num pingo
Num suspiro
O que era vida, o que era tida
Como um filho
Como um pai
Ou um sobrinho
Pois tudo se escorre
Sempre a sangue frio
Todo aquele que não se socorre
Tudo aquilo que se tem por um fio
Tudo aquilo que se tem por vida.
sábado, 14 de março de 2015
Aquemquiser
À beira da despedida, o desperdício do tempo. Já dava quase o último trago quando ele resolveu aparecer. A chuva cessara, mas o clima ainda pesava, mantive o guarda-chuva aberto com a outra mão. Nos demos um breve “oi” e entramos. Sem muita conversa, pedi o prato de sempre e o encarei, esperando que desse a primeira palavra, ou pelo menos o último adeus. Hesitou antes de dizer que me visitaria em breve ou que eu poderia ir a qualquer momento vê-lo, que a porta estaria aberta a qualquer hora; não dei muita atenção, pois nunca havia sequer tido porta, nem convite, nem disposição. Só havia minha vontade e impulsividade que me fazia ir encontrá-lo, nunca me dei o privilégio de negar meus desejos e esperar que os dos outros me mostrassem o quanto ainda me desejavam. O tempo sempre foi coisa do passado pra mim. Estávamos ali, encostados, inventando assunto pra curar a distância que já nos separava e desatar o nó que não podia mais nos prender naquela cidade. Partiríamos enfim. Quando começou a resgatar nossos momentos de plenitude, o interrompi, deixei a taça do melhor vinho dali pela metade e parti. Decidi dar ouvidos apenas ao que estivesse por vir e me joguei no primeiro táxi em direção ao centro, onde me esperava algum desconhecido que se despediria da forma simples e composta que pedia aquele clima: uma cerveja, um cigarro, uma transa, um adeus, e nada mais que isso.
sexta-feira, 6 de março de 2015
domingo, 1 de março de 2015
Solo
Adiei
meu amor por mais um dia,
coloquei tudo de lado,
busquei conforto num canto do quarto
e dormi no colo do travesseiro.
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