Chegam os finais
de semana e eu sempre me sinto sozinha. Sozinha, mas não solitária. Estar
sozinha, somente comigo mesma, eu, meus pensamentos e assombrações. E por falar
nelas, é preciso me livrar desses novos passados que seguem me
atormentando noite após noite e que hoje me vêm muito mais em forma de
reclusão.
Estão lá, cada
palavra, cada tentativa de me rebaixar, de me enlouquecer diante do outro, de
me diminuir para, enfim, me dominar, cada pancada que eu segurei com
a frieza que, por graças, conseguia manter acesa e pra me defender: a
única armadura contra o seu ódio por tudo e por todos: ser vazio e vazia. Eu
não conseguia mais chorar de tanta tristeza, nem sorrir com os olhos; já não
dormia à noite, já não queria viver meus dias. Só seguia o fluxo dos
dias que, em alguns momentos, eu conseguia ter sob meu controle, mesmo com
você tentando inundar tudo e me afogar na sua cólera condensada em veneno
e mentiras. Não, eu não me mataria nem recairia num poço que tem lá até
dedicatórias, como era de sua vontade sórdida.
Eu não tinha
medo de você, tinha medo de mim, de tudo o que se passava pela minha
cabeça em todas as vezes que você começava a rosnar e cuspir o mais
intragável fel misturado a fumaça do cigarro. Até minhas reações estavam em
jogo, na tentativa de serem controladas por alguém tão amador. E você queria a
todo custo se cobrir com o manto do vitimismo e me apontar como o ser que você
sempre tentou pintar por aí, à tua imagem e semelhança; teu espelho era
inverso. Aquele olhar vazio e cheio de ódio me tirava qualquer paz de
pensamento, a me prender numa repetição a marteladas: como poderia existir
pessoa tão cheia de abismos dentro de si?
A ilusão de
achar que eu ainda decidia sobre minha vida me fez protelar e
acreditar que, um dia, tudo passaria e se ajeitaria do
jeito que deveria ser. O problema
é que o que deveria ser, de fato, era. A ficha não caia.
Mas o meu pedido de socorro foi tão imerso em mim mesma, que de uma
faísca, veio junto tudo o que havia sido enterrado e abafado durante
esses anos. E sair da escuridão me fez reenxergar a vida e tudo
o que ela sempre me prometera: não era mesmo ficar num porão imundo à
mercê do que eu precisava crer pra não cair em declínio total, sem
mais voltas, sem outras chances. Eu tinha forças ainda, e eram bem maiores
do que ontem, seriam sempre maiores amanhã. Forças internas e
externas. As minhas. As dos meus.
Então você foi
arrancada como um band-aid que sai de uma ferida curada, sem dores.
Eu não estava nas minhas mãos, mas, agora, também não estou nas suas. E isso me
abre qualquer possibilidade de vida, nem que seja para escolher entre
ficar simplesmente sozinha, aos finais de semana ou em qualquer outro dia. O
vazio dessa casa nunca me preencheu de tanta paz. E hoje eu entendo a diferença
entre solitude e solidão.
E pensar que, um dia, eu deixei que você questionasse até a minha escrita.
Estar só, ser só, solidão, solitude... tudo percepção da nossa mente. Vc chega em casa, não há ninguém, vc vai tomar seu banho ou preparar sua refeição... vc decide se isso é solidão ou liberdade. Não permita que ninguém controle o único lugar onde o controle é todo seu. Fico feliz que tenha retomado suas rédeas, mesmo que aos poucos. continue.
ResponderExcluirBem forte.Todos em algum momento da vida se identifica com cada linha.
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